Acidentes de Trânsito?
Por Roberta Torres
Acidente é algo não previsto e eles até acontecem. Mas será que são todos acidentais? Se o condutor infringe claramente uma regra de segurança, como dirigir alcoolizado, ou em alta velocidade, não é clara a intenção de causar o “acidente”? Então, neste caso, mortes causadas no trânsito desta forma não deveriam ser considerados “acidentes”.
Aceitar que um crime de trânsito, mesmo que não cause morte, seja chamado de acidente – como estamos acostumados a tratar – fortalece a ideia de ser algo casual, eximindo de culpa e de punição aqueles que o cometeram.
Cabe à sociedade mudar sua visão, não aceitando mais as tristes perdas de vidas no trânsito por meros “acidentes”. É chegada a hora de voltarmos contra a impunidade e cobrar das autoridades punições mais severas e maiores investimentos na educação para o trânsito, fiscalização e infraestrutura. Não podemos achar “normal” famílias sendo desestruturadas por causa de um ato de imprudência, falta de amor próprio e falta de respeito pelos seus semelhantes.
Talvez a maioria das pessoas que se incomodam com a quantidade de mortes diárias no trânsito admitiriam que a situação chegou ao seu extremo e compartilham inevitavelmente a ideia de um colapso geral. Ainda assim, assumimos de forma consciente que pouco podemos fazer a respeito. A maioria assume que não podemos fazer nada sobre o assunto, mas eu digo que podemos.
Acredito que esse processo é reversível. Nossa sociedade está decadente e nosso trânsito carente de contribuições pessoais pontuais. É isso mesmo! Cada um fazendo a sua parte. O trânsito moderno está sim repleto de maus hábitos, porém, que podem ser evitados se estas mesmas pessoas que se incomodam, estiverem dispostas a dar-se o necessário trabalho de mudar.
Em 2011, Rafael Baltresca perdeu a mãe e a irmã vítimas de um condutor que estando em seu veículo em alta velocidade, atropelou e matou as duas em São Paulo. O autor do crime se recusou a fazer o teste do bafômetro, mas testemunhas afirmaram que ele estava completamente embriagado. Diante desta situação e da realidade que o Brasil enfrentava e ainda enfrenta, Rafael e amigos criaram o movimento Não Foi Acidente, com o objetivo de mudar as leis brasileiras principalmente relacionadas à mistura álcool e direção. Após este movimento ter sido criado, centenas de brasileiros se uniram à causa e continuam se unindo.
Mudar essa concepção pode levar algum um tempo. Mas, quem sabe, aflorar na sociedade a desejo de justiça seja o primeiro passo para a longa caminhada?